Quase


* Silhueta feminina - Fausto Gamito


Boca, nariz, olhos,
mãos, ouvidos,
mascaram o que sou.
Coração, pernas, pés,
conduzem onde vou.
Obras nos dedos,
alma reflexa no olhar,
delatam,
e quase relatam,
aquilo que sou.
Quase.

Giulia Dummont


Tardes de Abril


* imagem aqui


Nas tardes de abril, tão belas,
enquanto sonho ou medito,
o astro diurno se despede
e os raios últimos, tão tímidos,
desse sol dos mares infinitos
derramam na montanha centelhas
acendendo de vez todas as estrelas,
brancas margaridas bordadas
no manto de azul intenso.

E nesse pélago noturno,
de mistérios em alabastros,
que tanto atrai e fascina
cumprem as estrelas sua sina.
Pressentem o futuro:
um dia foram astros,
compreendem e sabem os amores:
alguma vez já foram flores.

Giulia Dummont


Canção da Madrugada


* imagem google



Quando tardias horas desfilam
é tranquilo o meditar:
é quando estrelas cintilam
nas ondas mansas do mar.



É quando a lua majestosa
vestida de brincos e colar
como uma moça vaidosa
no mar-espelho vai se mirar.



É quando as ondas, aos pares,
se espreguiçam na areia da praia
espalhando seus muitos colares
para adornar a sapucaia.



Horas de apenas rumores
longos, vagos, em harmonia:
é a canção dos pescadores
pedindo fartura no novo dia.



É quando ao murmúrio da prece
o espírito enfim descansa
e o coração adormece
abrigado sob a esperança.



O pensamento então liberto
voa alto com a fantasia
e sonha célere, aberto,
nas asas da nostalgia.



É quando o poeta desperta:
recebe os beijos da luz
pela sua janela entreaberta
da madrugada que o seduz.



Sentindo os mistérios da cor
e as carícias noturnas do som
seus versos vem entrepor:
é a sublimação de seu dom!


Giulia Dummont

Phoenix


* imagem google

"A Phoenix, Fênix ou Phoinix (grego) é a lendária ave que ateia fogo em si mesma quando descobre que está para morrer. Ela povoou o imaginário mitológico das antigas civilizações egípcia e grega. A lenda diz que a primeira Phoenix surgiu de uma centelha que o deus Ra soprou sobre a face da Terra, representando o Fogo Sagrado da Criação.Segundo a lenda, seu habitat é entre os desertos da Arábia, entre as ervas e temperos aromáticos. Ela vive por volta de 500 anos e após esse período procura uma árvore solitária e, no alto de sua copa, faz seu ninho com canela, olíbano (uma espécie de goma-resina, encontrado na África e na Índia; especiaria muito utilizada na Antiguidade para se fazer incenso) e mirra (espécie de arbusto encontrado em regiões desérticas, especialmente na África e no Oriente Médio). Ela, então, ateia-se fogo e de suas cinzas surge um pequeno ovo vermelho de onde nasce uma outra Phoenix, mais forte e mais bonita. Ela representa a imortalidade do ser, o poder de mudança, de consciência de si mesmo." mais aqui


Estive por aí, pensando ao léu, tentando esticar o tempo que está e esteve guardado num segundo. E, entre chuvas - grande e pequenas -, entre trovoadas e relâmpagos da tempestade que se abateu sobre mim, vejo que saí com alguns arranhões: pequenas cicatrizes que são lembranças e que dizem da caminhada e dos tropeços da vida.

Nessa jornada encontrei espinhos - muitos, mas colhi algumas flores que deixaram sementes: estas brotaram em lindos ramos e frutos de esperança! Perdi amores - e outros fizeram com que me perdesse -, alguns amigos me esqueceram ou se perderam de mim, mas ganhei muitos outros, num saldo absolutamente positivo na balança do destino.

Ciclo encerrado, urge caminhar novamente, deixando para trás, nas cinzas do passado, o cansaço, o desânimo, o desamor, a desesperança. No novo alforje levo o conforto dos dias bons, os sorrisos frescos colhidos nas manhãs de sol, a sabedoria trazida pelas tardes amenas e o silêncio amealhado nas noites insones, onde a poesia foi, sempre, a fiel companheira.

Mais um novo ano, novos sonhos, novas esperanças... Ao caminho, pois: a fênix renascida desponta no horizonte e mantém suas novas asas preparadas para alçar longos e felizes vôos!

Giulia Dummont

Moto-Contínuo


* imagem google

O dia nascendo
é menino travesso
brincando nos campos:
passeia entre flores
nas asas do vento
em voejar de borboleta.

O dia passando
é homem já feito
trabalha pesado:
pensando o sustento
batalha apressado
portando sua maleta.

O dia findando
é velho cansado
andando à bengala
com seu passo lento:
veste seu manto
rumo às estrelas
à bordo de um cometa.

Adormece feliz
o incansável ancião.
Na sua eternidade
seja inverno ou verão
seja amanhã ou depois
será novamente
aquele menino travesso
no dia nascendo.

Giulia Dummont